sábado, setembro 16, 2006

A "Nova Resistência" (parte 2)

Em nossas últimas entrevistas e matérias na mídia sobre o movimento, campanha pelo Voto Nulo e Democracia Direta , pudemos perceber, pelas perguntas formuladas, dois interesses principais; os objetivos a médio prazo do protesto (uma vez que o resultado final das eleições não poderá ser anulado mesmo que adiado) e a necessidade de abordagem sobre questões pontuais como o Voto Facultativo.
Este tipo de preocupação, tem por base a certeza de que, nenhuma reforma política satisfatória aos interesses dos que realmente pretendem uma limpeza ética, seria proposta, muito menos aprovada por nossa classe política atual.
Repercutem aqui e ali, artigos e colocações pessoais de jornalistas, acadêmicos, cientistas políticos, etc, parecendo haver um movimento subterrâneo em formação.
Uma “Nova Resistência” , não mais nos moldes e pelos motivos de décadas passadas, porém, por uma outra necessidade, até mesmo de “sobrevivência” do valor do pensamento.
Uma luta velada entre o “tirocínio” e o “latrocínio” . Não se espantem , pois é “latrocínio” mesmo, onde o intelectual seria a vítima.
Claro que não me refiro aos “intelectualóides” rançosos, vaidosos, mentalmente “cristalizados”, que se sentem isentos de críticas, acima dos mortais, mas sim aos que verdadeiramente se preocupam com os rumos do país sem colocarem seus interesses pessoais e ideologias à frente das mais variadas tendências e anseios populares.
Não usaria neste momento a expressão “formadores de opinião” , preferindo a de “fomentadores de opinião” , no sentido de estabelecer a diferença entre estas duas posturas no exercício da função.
Uma procura “fazer a cabeça” , outra “ levantar questionamentos", estimulando o raciocínio crítico do leitor.
Ocorre, entretanto, que políticas “populistas” , promovem um verdadeiro “assalto à mão armada” contra a lucidez, tentando abatê-la, vitimando-a, morta e inerte para sempre, roubando-lhe seus poderes de influência, como forma de eliminação de perigosas resistências.
Presenciamos um exemplo disto, nestes últimos meses, nos inflamados discursos do nosso presidente-candidato, ao vociferar contra as elites e a mídia, como se a sua eleição em 2002 não se devesse ao majoritário apoio da mídia, intelectuais e artistas, fora os “conchavos” com os que ele antes chamava de “direita elitista”.
Não há novidade alguma nesta espécie de comportamento.
Pelo contrário, a receita é muito antiga e seguida por todos líderes autoritários que se julgam ungidos pela sorte que o destino lhes reservou possibilitando-lhes galgar o pódio máximo do poder.
Assim como nos fenômenos da teoria dos Campos Mórficos (R.Sheldrake), cada classe social ou grupo com as mesmas características semelhantes mais profundas e peculiares, tende a “captar” num determinado momento uma “instrução” ou aprendizado,por um de sua espécie, mimetizando inconscientemente este ato ou comportamento de maneira progressiva contagiante.
Atribuir ao “carisma” de Lula sua situação atual é uma falácia insustentável diante das três eleições em que foi cruelmente derrotado.
Ainda usando o fenômeno dos “campos mórficos” como hipótese de explicação, lembraria que antes, durante todo o seu trajeto desde a liderança sindical, ele nunca foi a imagem do proletário ambicioso, materialista, individualista, capitalista por natureza, mais preocupado com a “SUSTÂNÇA” do que com ideologias.
Manteve a liderança enquanto defendia interesses básicos da categoria e não por adesões ideológicas por parte dos metalúrgicos.
Uma vez “transfigurado” fisicamente, pela influência do então internacionalmente reconhecido líder sindicalista da Polônia; Lech Valessa, foi aceito e "amestrado" por nossa elite intelectual, como forma de "âncora popular” logística, capaz de levar nosso segmento mais “esclarecido” da sociedade, ao poder .
Acostumado aos truques e mutretas das rinhas de galos, Duda Mendonça percebeu o erro de imagem, cometido em campanhas anteriores de Lula, deixando que um novo ex-metalúrgico, mais “aburguesado” e menos inconformista, aflorasse, igualando-o ao contingente eleitoral majoritário da baixa classe média, formada por seus antigos “companheiros” de origem.
Um Lula de terno impecável, maquiado, bonzinho, com sotaque nordestino e uma história de “pobrezinho que chegou lá” seria o bastante, como foi e continua sendo, seu trunfo.
Afinal, pobre detesta imagens de miséria , gosta de luxo, como sempre afirmou o carnavalesco Joãozinho Trinta.
Quem aprecia miséria é intelectual.
O “sonho” de qualquer trabalhador estava lá na TV, transmitido por um "novo Lula", pois operário brasileiro nunca foi comunista e sim “consumista”.
Nossa classe média mais informada e culta agora tenta sair do abismo em que se meteu ao adular e colocar no poder algo que se demonstrou fora de controle, ardiloso e com imenso instinto de sobrevivência.
"Lulas" se agarram como podem e onde podem ...
Alguém vindo do povão, sem maiores princípios ou valores éticos que se acostumou aos deleites do poder.
Sem que perceba, a parcela assim denominada “mais esclarecida” de nosso povo, que por décadas acreditou num engodo, está sendo inconscientemente “estimulada”
por uma nova "onda" em formação, vinda de fora do seu núcleo social mais próximo, sem vínculos ou compromissos outros que não sejam os para com a nação.
Este “Tsunami” só será visto em toda sua plenitude quando “atingir a praia”.
Seu “epicentro” , a vontade e determinação de cidadãos de bem idealistas.


Cristo ou Barrabás ?

Existe uma enorme diferença entre representatividade e legitimidade.
A primeira traduz-se pela quantidade de eleitores que elegem um representante, de acordo com seus interesses ou ideologia, enquanto que, a segunda, pressupõe o preenchimento de determinados requisitos indispensáveis para o exercício do mandato, quais sejam, condições legais e formais para a investidura.
A título de exemplo, de como podem existir distorções e antagonismo entre uma e outra, citaria um caso hipotético de um meliante, chefe de quadrilha , que domine uma favela altamente populosa, garantindo-lhe eleição certa, só lhe faltando um partido político.
Ora, todos sabemos que legendas são “compráveis”, portanto, isto não seria um obstáculo à carreira política deste indivíduo que se alimenta do ilícito para exercer seu domínio sobre tantas pessoas miseráveis.
Imaginemos que, uma vez eleito, setores indignados resolvam promover uma cruzada moral para impedir sua posse ou desalojá-lo do cargo.
Uma vez investido de seus privilégios e imunidades, sem que tenha havido qualquer condenação judicial transitada em julgado, antes do pleito, não poderá ser destituído, conforme determinam as regras do jogo democrático.
Assim sendo, teríamos aqui um caso típico de confronto entre a expressão popular e a ética, entre a vontade e o lícito.
Comparando ao nosso presente eleitoral, constatamos que, por conivência, covardia, premeditação ou irresponsabilidade, o Legislativo e o Judiciário transferiram para o povo suas obrigações de ofício.
Caberá à maioria duplamente carente, em educação e recursos, julgar questões legais e éticas, como se vivêssemos num mundo anárquico, ideal, sem desigualdades sócio-culturais, leis nem governo.
Quem acham que a massa absolveria?
Jesus Cristo ou Barrabás (o ladrão) ?