sábado, setembro 09, 2006

"Alambique"

Uma coisa é a Europa saber que o resto do mundo existe, outra é o resto do mundo decidir pelos europeus. É mais ou menos assim que se sente nossa parcela mais educada e esclarecida da sociedade brasileira .
Era inevitável que chegássemos a este ponto, mas ninguém tomou providências para que esta bizarra situação não ocorresse.
De que adianta tantos se esforçarem, estudarem, se a maioria ignorante é quem decide ?
O inesquecível Nelson Rodrigues dizia em sua peça e filme ; “Toda nudez será castigada”. Diria que; “toda lucidez será castigada”, pois o que vemos é uma total sensação de impotência das pessoas de maior nível cultural ante um mar de alienação e ignorância geral.
Este fosso abissal que nos separa reflete a realidade do mundo atual, num mesmo país e povo.
“Surfamos” do paleolítico ao “high tech” neste “Brasilzão” cordial que abriga tantas distorções, desigualdades e diferenças.
Cunharam esta característica nacional como uma “Belíndia “. Mistura de Bélgica com Índia, mas discordo desta concepção de um país dividido entre duas realidades antagônicas.
Isto seria verdade se não houvesse uma massacrante e majoritária “Índia”.
Aliás, nem devemos encarar como Índia” nossa pobreza , pois lá existe uma rígida estratificação social e forte componente religioso. Prefiro algo mais próximo de nossa realidade, como; “Alambique” , misto de Alemanha com Moçambique.
Cachaça é o que não falta por aqui. Nossa incidência de alcoolismo no trabalho é horrorizante, pois quase todo trabalhador braçal consome suas pingas diárias para poder enfrentar o batente .
Quando voltam para casa fazem mais um filho enquanto nós , da classe média, usamos pílulas e camisinhas, para diminuirmos nossa descendência a tal ponto que estaremos extintos em menos de um século.
Pode parecer meio rude esta comparação e análise, mas quando resolvemos perder algum tempo observando o horário gratuito eleitoral , constatamos o retardamento mental generalizado do brasileiro. Chega a ser tragicômico o espetáculo .
São aqueles exemplos de absoluta boçalidade que nos governam e nos representam, queiram admitir ou não os que ainda acreditam que elegendo uma meia dúzia “melhorzinha” exista esperança para esta Democracia Representativa que temos.
Graças a uma artimanha do governo Geisel, temendo o crescimento da oposição nos grandes centros , principalmente do sudeste e sul , temos este sistema de eleições proporcionais totalmente absurdo onde o Acre com escassos habitantes e contingente eleitoral tem o mesmo peso de São Paulo em termos de representação no Congresso.
É um crime, uma anomalia extrema esta deformação da representatividade popular.
Sudeste e sul simplesmente não existem como liderança num Congresso inteiramente dominado por políticos clientelistas exploradores da miséria nordestina.
O Brasil caminha para uma divisão separatista. Movimentos neste sentido há, mas a intensa migração incentivada pelos governos petistas minou o sentimento de união de certas regiões como o Rio Grande do Sul, por exemplo.
Nenhum país do mundo tem tamanha distorção social como o nosso.
Somos o que o mundo é. Um conflito entre o paleolítico e a modernidade.
Ocorre que, o paleolítco é que nos domina e decide .
Seria isto uma Democracia ?
Entendo que nunca seria, pois falta a capacidade de compreensão do que seja um “pacto social” consciente, entre iguais, que represente a vontade de um povo.
Um povo desigual não pode ser democrático.
Qual a solução?
A longo prazo, quase como uma “missão” de grande envergadura e alcance .
Nunca chegaremos a ver total igualdade , pois cada um tem o seu potencial e desempenho.
Isto tem raiz nos costumes, hábitos e tradição das etnias e povos que formaram nossa identidade nacional. Alguns bons e produtivos, outros nem tanto .
Temos de encarar esta verdade, sem nos deixarmos censurar pelo “politicamente correto”, ou nunca chegaremos a uma resposta para o nosso atraso e debilidades crônicas.
Os que hoje dominam o mundo, foram um dia escravos e dominados, portanto, qualquer tentativa de explicação pela velha retórica da dominação e vitimização, como forma de entender as desigualdades, será inócua e inconsistente .
Prefiro atribuir aos hábitos, costumes e tradições as causas destas diferenças atávicas que se eternizam.
Sem qualquer sentimento de culpa .
Democracia só funciona entre iguais.