sábado, novembro 18, 2006

Do Caos à Criação



Estamos criando uma bomba de efeito retardado, que explodirá em no máximo 10 anos, se é que ainda estaremos vivos, ou existirá vida na Terra até lá, pois as alterações climáticas cada vez mais aceleradas e a total ignorância humana, poderão dar cabo de nossa existência.
O mundo da produção industrial se assemelha em muito ao do desenvolvimento das atividades e ocupações humanas em termos de expectativas, duração e obsoletismo.
Vejamos, por exemplo, como era o nosso país apenas 50 anos atrás como a produção industrial se comportava.
A grande maioria dos que vieram de antigas famílias “aristocráticas”, se é que podemos chamar assim descendentes de elites de nosso passado colonial, gradualmente superadas e empobrecidas, não só pelo crescimento e proliferação, como também pelas transformações econômicas,criou o que chamávamos antigamente de “classe média”, geralmente bem instruída, com forte base familiar católica, noção de importância herdada, distanciamento social, nacionalista e com uma certa “resistência” inata contra a dominação estrangeira.
Durante a ditadura da “era” Getúlio Vargas, esta “elite pensante, embora empobrecida, encontrou amplo amparo na máquina estatal, nas “repartições públicas”, ministérios, secretarias e outras fontes de emprego, num regime altamente estatizante e hierárquico.
Com a eleição de Juscelino Kubitschek, o panorama se transformou quase que por completo, com vultosas entradas de capital estrangeiro, especialmente direcionados para empreiteiras e indústrias de segunda geração.
Ainda assim, esta antiga classe média se adaptou e conservou sua influência, conseguindo os melhores cargos e posições profissionais, embora muitos outros, provenientes de estratos mais baixos, também tenham aproveitado esta oportunidade para ascenderem socialmente.
Com o regime militar, a partir de 1964, paradoxalmente, houve uma “revolução social”, queiram ou não seus críticos, mas à luz de um julgamento mais distanciado de ideologias, nunca antes tivemos tal mobilização social, no sentido do acesso de amplas camadas ao consumo e propriedade de bens móveis e imóveis , pelos financiamentos de casas e apartamentos e intensificação da produção de automóveis populares.
Para que isto fosse possível, havia a necessidade de uma infra-estrutura à altura de comportar tamanho crescimento da demanda e assim foi realizado concretamente pelos mega-investimentos em telecomunicações, hidrelétricas, estradas e urbanização.
Foi o “milagre brasileiro” com crescimento anual de até 12% , superior ao da China atual.
Ou seja, tivemos uma “socialização do consumo” num regime denominado de “direita”.
Um nacionalismo extremado e até uma espécie de “Autocracia” (tipo de regime onde primeiro vem a satisfação e crescimento do mercado interno e sua independência estratégica perante outros países) durante quase uma década.
O eminente Celso Furtado, era um defensor desta política econômica, contrariamente ao que temos agora , cuja primazia é a do monetarismo e globalização.
Durante o regime militar mais de 360 estatais, paraestatais e empresas de economia mista foram criadas, abrigando, não somente a classe média, mas também outros segmentos em ascenção, devido ao imenso “salto educacional”, que abriu as portas do universo acadêmico a muitos que jamais tiveram acesso a cursos superiores.
As guerras do Oriente Médio, conseqüentes embargos petrolíficos e retração da Economia mundial, abortaram este crescimento, possibilitando a insatisfação interna e os movimentos pela abertura política.
Voltando à comparação entre o desenvolvimento da produção e das atividades humanas, teríamos duas características básicas a serem analisadas:
1) Os chamados “produtos duráveis”, geralmente da “linha branca” (refrigeradores, fogões,etc) cujo fator “obsoletismo” era mais lento, com pouquíssimas alterações. Por conseguinte, maior demora em substituir produtos adquiridos.
2) Do mesmo modo os empregos eram quase “vitalícios”, com gradual possibilidade de ascenção social.
No mínimo, um funcionário terminava sua vida útil produtiva, recebendo um relógio de ouro de seu patrão ou chefe em cerimônia gratificante, depois de quase toda uma vida colocando seu paletó na cadeira.
Hoje isto não existe mais, nem na denominada “linha branca” depois da “simbiose” ocorrida com a “nano-eletrônica”, onde um refrigerador passou a ter funções programáveis e até acesso à informação.
As antigas “geladeiras” viraram quase que um “videogame interativo”.
Os microondas também e poucos leram todo o manual depois de os comprarem.
Programe assim e assado, demora tanto para entender, que o assado nunca sairá, nos matando de fome.

Não consigo programar nem meu despertador do relógio meu Deus!
O mesmo ocorreu com os empregos, pois agora nada mais é seguro, depende de intensa atualização, penosa competição, com novas levas de profissionais e nenhuma expectativa de longevidade num cargo.
Imaginem agora, o que acontecerá com estas grandes massas profissionalmente desqualificadas, ou em atividades que dependam de juventude, modismo ou mesmo a manutenção do interesse turístico?
Justificadas como “ações afirmativas”, na verdade seriam “ações depreciativas”, pois nada inserem de avanço qualitativo, de valor agregado a funções e profissões, consideradas de nível inferior em termos culturais.
Será este o destino de milhões de brasileiros, hoje batucando em “Oloduns” da vida, acobratas, malabaristas, palhaços de circo, dançarinos, “rappers”, artistas da mídia?
Sabemos bem que, para estes tipos de atividades há uma vida útil, depois o ostracismo e a ociosidade miseráveis.
Qual o futuro daqueles meninos favelados batucando em latas, que pensam atualmente serem “estrelas” porque a TV assim os estimulou, mostrando-os como “milagres das ações assistencialistas” nos meios mais carentes?
E dos milhares que ganham com os “trios elétricos”, “forrós” e todas as escolhas profissionais que impliquem em mocidade, energia e interesse dos turistas?
E os demais que saturarão mais ainda o mercado de "diplomados" desempregados?
Pois é este o ponto crucial.
Reporto-me aos pensamentos de grandes escritores como; Aldous Huxley
http://pt.wikipedia.org/wiki/Brave_New_World_(romance)
; Thomas More (Utopia)http://www.klepsidra.net/klepsidra5/utopia.html
e até mesmo o contemporâneo ; Alvin Toffler http://en.wikipedia.org/wiki/Alvin_Toffler
Brilhantes as previsões de “Admirável Mundo Novo” e “O Retorno” de Huxley.
“A superpopulação conduz à insegurança econômica e à intranqüilidade social. Intranqüilidade e insegurança conduzem a maior controle por parte dos governos centrais e a um aumento do poder deles. Na ausência de uma tradição constitucional, este poder reforçado será provavelmente exercido de forma ditatorial”. (HUXLEY: 1957: 32-33)
“O controle do comportamento indesejável por intermédio do castigo e’menos eficaz, no fim das contas, do que o controle por meio de reforço do comportamento desejável mediante recompensas.”(HUXLEY, 1957: 18)
"E a crise permanente é o que temos a esperar num mundo em que a superpopulação está a produzir um estado de coisas em que a ditadura, sob os auspícios comunistas, se torna quase inevitável”. (HUXLEY, 1957: 35)
“... daqui a vinte anos, todos os países subdesenvolvidos e superpovoados do mundo estarão sob uma forma de domínio totalitário – provavelmente exercido pelo Partido Comunista”. (HUXLEY, 1957: 33).
“Nesta segunda metade do século XX, nada fazemos com caráter sistemático pela nossa procriação; mas, com o nosso modo ocasional e irregular, estamos não somente a superpovoar o nosso planeta, mas também, parece, procedendo seguramente para que estas massas de população cada vez maiores, sejam das mais pobres de qualidade biológica”. (HUXLEY, 1957: 40)
“E a par com um declínio da saúde média bem pode ir um declínio na inteligência média. Na verdade algumas autoridades competentes estão convencidas de que tal declínio já ocorreu e está a continuar. ‘Sob condições que são fáceis e irregulares’, escreve o Dr. W. H. Sheldom, ‘as nossas melhores camadas tendem a ser subvertidas por outras que lhes são inferiores sob todos os aspectos...’ (...) Num país subdesenvolvido e superpovoado, onde quatro quintos da população recebe menos de duas mil calorias por dia e um quinto goza de uma dieta adequada, podem as instituições democráticas nascer espontaneamente? Ou se fossem impostas de fora, ou de cima, poderiam sobreviver? ”. (HUXLEY, 1957: 41)
“Vemos, pois, que a tecnologia moderna tem conduzido à concentração do poder econômico e político, e ao desenvolvimento de uma sociedade controlada (implacavelmente nos estados totalitários, polida e imperceptivelmente nas democracias) pelo Alto Negócio e pelo Alto Governo.”(HUXLEY, 1957: 51)
“Física e mentalmente, cada um de nós é único. Qualquer cultura que, no interesse da eficiência ou em nome de qualquer dogma político ou religioso, procura estandartizar o indivíduo humano, comete um ultrage contra a natureza biológica do homem” (HUXLEY, 1957: 53)
“No leste totalitário há uma censura política, e os meios de comunicação com as massas são controlados pelo Estado. No Ocidente democrático há a censura econômica e os meios de comunicação com as massas são controlados pela ‘elite do Poder’”.(HUXLEY, 1957)

Deu para sacar o alcance destas “visões do futuro?
Comparemos com as “visões” e idéias de Thomas More em sua “Utopia, onde a humanidade seria capaz de uma espécie de “Autogestão”regulatória natural e as projeções de Alvin Toffler, que jamais considerou em seus estudos os eventuais aspectos geopolíticos e os incidentes internacionais, como fatores modificadores ou obstáculos imponderáveis aos avanços por si idealizados para uma sociedade liberta dos padrões “mecanicistas” que prevalecem por dois séculos.
Pesquisem estas obras e verão que entre elas existe uma linha comum de erro, inclusive na de Huxley.
Sabem qual é?
O maior conhecimento do alcance de pequenas ações e vontades individuais, que novas teorias como a do “Caos” , da Física Quântica, do “Efeito Borboleta”, da teoria dos “Campos mórficos (ou Morfológicos) de

Ruppert Sheldrake
http://www.sheldrake.org/homepage.html ,
vieram para complicar mais ainda certas “certezas” de tantos futurólogos como Hermann Khan, muito respeitado e disputado para milionárias palestras , mas já superado em sua pragmática teoria.
Por que erram?
Porque o ser humano não é linear, suas características básicas sim, porém seus impulsos de momento não.
Quem quer que racionalmente tentasse analisar as tendências no século I A.C, jamais teria conseguido “projetar tamanha transformação do mundo pelo advento do cristianismo, quando somente um homem mudou os destinos do mundo.
Portanto, não podemos desconsiderar o “imponderável”, aquilo que não depende de nosso parco “livre-arbítrio”, hoje arrogantemente defendido como uma conquista do ser humano racional, depois da degeneração evolutiva e moral que sofremos nos últimos 4 séculos.
Costumo lembrar qual o “livre-arbítrio” tinham os que pereceram no atentado contra o WTC ou no acidente aéreo da GOL?
Qual?
Digam-me !
Todos tinham planos e projetos de vida não?
E o que ocorreu?
Nunca é demais admitirmos nossa insignificância e fragilidade em termos cósmicos .

Somos apenas e tão somente “parasitas” momentâneos num fluxo temporal, presos a uma esfera em errante órbita no espaço.
Planetas são corpos celestes errantes, em constante mudança de trajetória levados pelos seus centros gravitacionais .

O mesmo somos nós e temos um “inconsciente coletivo” capaz de alterar, surpreender e contestar todas as teorias racionais, pois somos seres humanos, não máquinas previsíveis e autômatas.
Temos algo mais.
Um Espírito e alma a nos distinguir e diferenciar .
Toda “Utopia” deixa de assim ser, quando realizada.
Pretender negá-la, seria negar nossa capacidade de evolução.
Sei bem que isto contraria a realidade atual em termos de desigualdades culturais e mentais, mas isto não significa um obstáculo intransponível quando outro fator mais importante entraria como “catalisador” de tendências.
A fraternidade, elemento essencial para a sobrevivência de nossa espécie nos mais difíceis momentos que passamos desde primitivas eras, ou não teríamos sobrevivido.
Se foi possível num remoto passado da humanidade, poderá ser agora, mesmo sabendo que teremos de limpar e preparar o terreno para uma nova semeadura.
O Brasil tem jeito sim.
Só depende de nos encontrarmos e desenvolvermos uma cultura afeita ao nosso temperamento e raízes, eliminando os vícios de conduta, os maus hábitos, cultivando o que de bom temos como povo .
Quem sabe surpreenderemos a todos como uma “Fênix”?
É do caos que vem a Criação.

Das cinzas de gerações perdidas poderão emergir e germinar as sementes de uma Nova Era.