domingo, agosto 06, 2006

"Síndrome de Thanatos"

Nossa classe média intelectual sofre da “síndrome de Thanatos”.
“Tanatomania”.
Mania suicida.
A classe mediana dos medianamente medíocres.
Por não suportar viver conforme os ideais da juventude, não passa de uma burguesia vaidosa atormentada pelo complexo de culpa.
É dependente, fraca, prefere conviver com o perigo do que enfrentá-lo ou evitá-lo.
Nutre recalques contra as elites e ao mesmo tempo se apavora com a possibilidade de perder o padrão de vida.
É “socialista” por fora , exclusivista e egoísta por dentro.
Curte a miséria nas telas mas detesta a pobreza real à sua porta.
Acredita que “sapos” possam virar “príncipes”.
Elegeu um que inflou, se encheu de ar e ameaça urinar veneno em quem o tocar.
Não satisfeita, esta mesma classe “mais esclarecida” agora alimenta uma “perereca”.
Por enquanto pode parecer inofensiva e frágil, mas crescerá, como acontece com todos os “sapos” e não se transformará jamais em “princesa”.
Na melhor das hipóteses se cercará de muitos outros “sapos”, ávidos por um lugar ao sol.
Por falar em “sol” nada mais emblemático do que o uso deste símbolo , premeditada e habilmente forjada adoção como “logotipo”,para facilitar a penetração ideológica de um novo partido.
E onde é o seu quartel-general? Em Alagoas, terra da sua candidata? Claro que não. Com certeza é no “sudeste maravilha”, Rio de Janeiro, aonde tantos “sapos”vindos de fora coaxam alegremente nas mesas de bares e praias.
Como entender esta tendência um tanto esquizofrênica dos eleitores mais bem informados e educados?
O Rio de Janeiro sempre foi um foco de resistência oposicionista.
A rebeldia e o protesto são marcas inconfundíveis do eleitorado carioca.
Os votos anulados com palavrões que faziam a festa dos mesários, hoje não existem mais por causa das urnas eletrônicas.
Bons tempos aqueles em que um rinoceronte do zoológico (Cacareco) foi eleito.
Na verdade, nunca um partido do governo venceu uma eleição no Rio de Janeiro, nem mesmo durante o regime militar.
Enquanto a sociedade paulista é “fechada” , sem maiores contatos entre as classes sociais, a carioca é “aberta”, vive uma eterna Entropia, considerada mais igualitária, criativa e socializante, em razão das características topográficas e maior proximidade entre a classe mais abastada e as favelas .
Em São Paulo a distribuição é horizontal, facilitando o separatismo, no Rio é vertical, acima de luxuosos prédios de apartamentos nas regiões mais caras, há sempre um morro repleto de barracos .
A “malandragem” habitual dos burgueses cariocas é coisa inexistente na burguesia paulistana.
O Rio sempre foi uma espécie de “Babilônia” encravada entre montanhas, aberta para o horizonte oceânico.
O mais difícil era encontrar alguém ali nascido.
Mineiros, nordestinos, etc, encontravam naquela faixa de terra litorânea um verdadeiro “oásis” de oportunidades e prazeres.
Assim foi até a mudança da capital, deslocando grande parte da vida cultural do estado para outras capitais. São Paulo passou a ser o grande centro midiático exportador de cultura e a classe média intelectual carioca se viu invadida pela periferia miserável após a fusão. Mesmo assim, viver na zona sul do Rio era como se numa província, onde todos se conheciam, uma pequena Paris ou antiga Atenas, diferenciada em tudo das outras capitais do país.
O que mais diferenciava o Rio das outras cidades, era a atmosfera “democrática”, favorecida pelas praias, onde as classes sociais se misturavam sem maiores preconceitos.
O vendedor de mate e limão (um favelado) ia em nossa casa cobrar as despesas do mês. A empregada doméstica (outra favelada) fazia “parte da família” e opinava.
Dois fatores contribuíram para mudar esta convivência aparentemente “igualitária” entre a classe média e os pobres.
1-O narcotráfico e conseqüente violência urbana.
2-A “favelização cultural” das elites .
Não há razão para esconder o alto grau de envolvimento entre a classe média e o crime organizado, principalmente no que se refere ao comércio de drogas.
É fato notório a dependência de grande parcela viciada em tóxicos, abrangendo os mais diversos setores e segmentos .
Este tipo de contato obrigatório minou as resistências morais dos estratos sociais superiores, nivelando por baixo toda uma sociedade antes tida como a de maior nível cultural do país.
Das escolas de samba para o “funk” e o “rap” foi um pulo.
A formação acadêmica “socialista” que inevitavelmente tiveram várias gerações desde a década de 60, influenciou em muito esta “abertura” e afrouxamento de defesas, normalmente existente entre as classes sociais.
A necessidade quase imperativa de corresponder ao “modelo” de comportamento mais libertário, sem preconceitos e “politicamente correto”, acabou por “asfixiar” o desenvolvimento de uma “cultura classe média” ,que brotou no final da década de 50 e atingiu seu auge durante os festivais de MPB dos anos 60.
A bossa nova, as músicas de protesto de letras e composições mais rebuscadas, de cunho social, foram marcas da passagem pelas artes de uma elite pensante, oriunda dos meios universitários, que chegou a ofuscar e abafar outras manifestações de segmentos culturalmente inferiores, como ocorreu com a Jovem Guarda e o tradicional samba.
Bem ou mal, a classe média se via refletida, representada nos palcos e participava intensamente de todos os eventos artísticos .
Não durou mais do que uma década esta explosão criativa e produtiva, que elevou nosso padrão cultural, a ponto de competirmos em nível com as demais produções estrangeiras, em todos os setores das Artes, apesar dos Beatles, do rock e do completo domínio da indústria estrangeira de entretenimento.
O que vemos agora?
Uma classe média sem voz ativa nem personalidade, cumprimentando, falando e se comportando como marginais, adotando hábitos estranhos à sua própria origem e berço, como se seus antepassados nada mais tivessem deixado como legado cultural.
Todos querem ser “bonzinhos”, “politicamente corretos”, temem a rejeição social em seu meio caso manifestem suas verdadeiras opiniões, pois sofrem intenso “patrulhamento ideológico” de grupos extremamente ativistas, dedicados ao controle de comportamento social, segundo um plano de “revolução cultural” a longo prazo.
Isto se dá pela ação simultânea de Ongs, movimentos sociais, partidos políticos e toda uma parafernália de entidades e associações, que são na realidade instrumentos de dominação psicológica e condicionamento comportamental subliminar.
Observem o quanto estamos castrados e amordaçados até em nosso círculo social de amigos.
Já repararam as inúmeras vezes em que, ao expressarem sua opinião, começaram pela frase ; “não é que eu tenha algo contra, mas...”
Esta é uma reação de medo. Pânico em expressar pontos de vista pessoais ou simplesmente de falar a verdade, nossos sentimentos, princípios, valores, conceitos, enfim, como somos e o que pensamos.
As “paredes têm ouvidos”, alguém poderá nos ameaçar de processo pelo simples fato de abrirmos a boca declarando espontaneamente nossa opinião.
No ápice das inovações tecnológicas, em plena era da Internet, dos blogs, sites e comunidades de relacionamento, vivemos a “era da mordaça”.
Nossos pais e avós tinham mais liberdade de expressão, em que pese a eterna cantilena que durante o regime militar havia a censura.
Ora, também tive obras censuradas, mas nunca, em nenhum período anterior a produção cultural brasileira foi tão rica e criativa, exatamente porque existia um objetivo social, uma mensagem a ser transformada em arte, não bundas e pessoas mimetizando símios, como agora nesta baixaria generalizada, onde o primitivismo “tati-bi-tati” e o “tan-tan-tan” destruíram o pouco que restava de nível cultural neste país.
Uma coisa é termos diversidade cultural, outra é sermos submetidos a um primitivismo hegemônico insuportável.
Está certíssima aquela atriz comediante da Globo daquele programa extremamente sem graça e boçal (Zorra Total) ao dizer; “isto não te pertence mais” para uma classe média "proletarizada" , em pânico, tentando aprender o “jeitinho tribal” brasileiro de sobrevivência.
Realmente, este país não me pertence mais, não vejo meus anos de estudos e esforços representados num melhor padrão cultural.
Sinto-me num país primitivo, onde todos cantam, pulam e dançam nus para os “bwanas” colonizadores aplaudirem.
Não alimento “complexos de culpa” nem tenho qualquer inclinação ao suicídio.
Que a nossa classe média intelectual “crie seus corvos”, para que lhes biquem os olhos e a cegue, mais do que já não vê e não consegue enxergar a beira do abismo em que se encontra.
Continuem crendo que “sapos” possam virar “príncipes”.
Elejam suas “pererecas” e “sapões”.