quarta-feira, janeiro 11, 2006

Nota

Todos sabem que o nosso movimento fundamenta-se no resgate de valores e criação de uma identidade nacional.
Usamos em nosso manifesto “AÕHE” Brasil a imagem desta menininha Karajá como símbolo de nossos ideais de integração cultural .
Esta é a razão de nosso profundo interesse nos episódios que envolvam os indígenas, para que tenhamos uma exata noção imparcial e justa, de causas e conseqüências das políticas governamentais adotadas.
Acompanhem os relatos e opiniões de nossos representantes.

O Refém !

Sim, é o que relata o nosso amigo Ítalo Leonardo representante em E.S. que ficou detido na FUNASA durante a invasão dos indígenas.
Agora a coisa complicou pois o relato abaixo transcrito do e-mail enviado pelo Ítalo cria uma polêmica se confrontado com o esclarecimento do amigo Idjarrina Karajá representante no Amazonas.
Eram armas mortais sim e neste caso, houve ameaça de morte. Não eram inofensivas nem de brinquedo.
O crime está configurado e previsto na Lei Penal que vale para todos sem distinção.
Isto tem de ser analisado com mais cuidado para que a verdade apareça.
Talvez a situação dos indígenas em Vitória E.S. seja bem diferente dos que vivem no norte do país.
Minhas desconfianças foram confirmadas pela narrativa do e-mail.
Precisamos apurar bem para não nos precipitarmos em conclusões apressadas.
Este confronto de opiniões entre pessoas envolvidas diretamente no assunto até que é bom pois ajuda-nos a esclarecer os fatos.

Transcrevemos abaixo o último e-mail do Ítalo Leonardo recebido hoje.

"Homero, meu caro, ontem a noite eles se retiraram do prédio após quase oito horas de reunião com as autoridades competentes aqui do Distrito Sanitário Indígena, eu consegui sair daqui naquele dia mesmo, só que por volta das oito horas da noite, foi tenso!!! Rsrrs

Com relação ao que você disse sobre o fato de eles estarem vindo de um ensaio de Escola de Samba no Rio, eu também acho um absurdo, principalmente por que eles fretaram os ônibus sem prévio consentimento da FUNASA-ES, e alegam que esta Fundação é quem deve pagar o frete das conduções – e diga-se de passagem, a FUNASA vai acabar pagando.

Com relação ao que você disse quanto ao fato de existirem verdadeiros indígenas e outros travestidos de índios, digo que, pelo menos aqui no ES você tem razão, nota-se que existem sim os indígenas, mas que muitos já não são mais índios.

Homero, com relação aos índios das aldeias aqui de Aracruz, posso afirmar como testemunha ocular que todos são muito bem tratados, principalmente se compararmos com o tratamento dispensado para com o restante da população.

Eles possuem 4 (quatro) equipes de PSF (médico da família) para cada grupo de 200 cidadãos indígenas, bem mais que a média para o restante da população, que é de 1 (uma) equipe para cada grupo de 4000 (quatro mil) pessoas, se não me engano. Além de que os índios não podem freqüentar filas em hospitais, como as do SUS ou coisa parecida, sem contar que comida, remédio, computador, oito carros a disposição deles nas aldeias, que de aldeias mesmo só tem o nome, uma vez que são verdadeiras vilas, com todas as características das que vemos em qualquer lugar.

Suponhamos que em um hospital da rede pública de Saúde não tenha mais nenhum leito disponível, o que se faz? O cidadão “comum” que chegou primeiro é posto no corredor e o índio vai para o leito.

Eu, Ítalo Leonardo, particularmente creio que deveriam existir leitos hospitalares em quantidade suficiente para todos, já que infelizmente não existe acho um absurdo o fato de que um cidadão, simplesmente por ser de uma raça “X” possa ter prioridade sobre mim ou você que não somos.

Com relação ao que você disse sobre os interesses que por ventura podem existir por trás deste protecionismo exacerbado, digo que, quando passamos a observar o volume de dinheiro destinado às Aldeias Indígenas, seguramente teremos margem para desconfiar de muita coisa e fazer muitos questionamentos.

Quanto ao fato de estarmos desprotegidos, penso muito sobre isso, e é com muito pesar que digo que em uma possível invasão de nosso território no futuro, creio que seria bastante provável que não houvesse uma reação formal brasileira, talvez um teatro precedendo nossa rendição, evitando assim um real conflito, triste sim, mas não espantoso uma vez que penso que temos sido doutrinados para isso, para sermos pacíficos, permissivos e passivos.

Esse povo de direitos humanos, os vejo com olhos de muita desconfiança, uma vez que somente os vejo em situações que os expõe de forma “positiva” na mídia, nunca os vemos atuando nas casos verdadeiramente custosos, com medidas a longo prazo, onde poderiam de fato conseguir efeitos, além de positivos, efetivos. (é um caso sério a se pensar).

Focando ainda os nossos companheiros indígenas, creio que o excesso de direitos, o grande protecionismo e a falta de deveres seja o grande problema que os empurra para uma triste realidade.

Quanto a mim, fui privado da minha liberdade sim, mesmo que por um período curto de tempo, por descendestes indígenas já aculturados, que por mais que possuam o seu direito de reivindicar, jamais poderiam ter a audácia de nos fazer seus reféns; reféns sim, uma vez que todos portavam armas, tacapes, flechas pontiagudas, lanças adornadas e demais armamentos, todos capazes de ferir de morte qualquer pessoa.

Homero, tenho que confessar que por tudo o que vejo e tenho visto nesse país, há momentos em que fico muito descrente com esta nação, que nos dá um motivo para nos alegrarmos e muitos para nos entristecermos. Sabe, se eu me importasse apenas com o meu próprio umbigo tenho certeza de que tudo seria mais fácil, ou pelo menos, menos sofrido.

Mas agora tá tudo ok, agradeço por sua preocupação.

Abraços!!!"
Ítalo Leonardo