Em razão desta sensação de impotência de uma grande parcela da classe média indignada, que abrange sem distinção todas as faixas etárias a começar dos jovens, idealistas, rebeldes e não ainda corrompidos pelo sistema, podemos vislumbrar um fenômeno em formação, como um “Tsunami”, que se inicia silencioso, oculto nas profundezas até subitamente atingir devastadoramente o litoral .
A desesperança e descrença em relação a tudo que diz respeito ao nosso cenário político, somada ao sentimento de frustração por ser minoritária, esta classe mais esclarecida e informada, está construindo, aos poucos, “nichos de resistência civil”, ainda em fase embrionária, porém de rápido crescimento, como ocorre nas comunidades de relacionamento (Orkut,etc.), que já ganham respaldo nos meios acadêmicos.
Não são poucos os exemplos de opiniões de representantes destes centros de irradiação intelectual na mídia, em defesa de atitudes de protesto como o voto nulo e a desobediência civil.
As declarações de dois professores, pesquisadores, (Ab' Saber e Marcos Nobre) defendendo a validade do voto de protesto, publicadas pela Folha de São no espaço de uma semana , acompanhadas de outras matérias sobre a campanha pelo voto nulo, uma delas a nossa, onde pudemos esclarecer os verdadeiros objetivos e propostas de mudanças do sistema, são um prenúncio de uma “sensibilização” destes redutos intelectuais em busca de novas proposições, libertas do ranço ideológico que sempre prevaleceu nestes meios.
Ante a inevitabilidade dos segmentos mais cultos tornarem-se reféns de uma imensa massa amorfa, dominada pela grande mídia e populismo, com vem ocorrendo neste momento, em que o assistencialismo demagogo e oportunista do candidato à reeleição , explora os recalques dos miseráveis, vociferando contra as “elites”, repetindo o “ venezuelano” clima de “separatismo” à moda “Chávez“, cresce o número de pessoas que se mobilizam espontânea e voluntariamente contra esta ameaça indigerível, para os que ainda pautam suas vidas pela ética.
A legitimidade dos partidos, políticos e instituições, vem sendo duramente questionada, onde quer que pessoas se reúnam para discutir sobre política.
Entre os jovens, esta insatisfação se multiplica em progressão geométrica , substituindo as ideologias, que no passado nortearam os movimentos estudantis.
Tivessem os estudantes de 1968 a Internet e celulares, o desfecho teria sido outro, completamente diferente do que foi.
As comunicações eram precárias e a mobilização bem mais lenta, embora mais física e pessoal do que atualmente.
Desta vez teremos novas formas de protesto, talvez bem mais eficazes e imprevisíveis.
Nosso sistema de governo é incompatível com a abertura e liberdade participativa que a tecnologia proporciona.
O“coronelismo político” precisa ser, o quanto antes, devidamente “sepultado".