O Difícil "Despertar" !
"Todo comportamento tem suas razões. A ética é simplesmente a razão maior"
David Hume, (Moral and Political Philosophy)
"Para a maior parte das pessoas, a desonestidade é mais lucrativa que a honestidade"
Platão, (A República)
Como todos poderão constatar, a desonestidade sempre existiu e faz parte do comportamento humano desde remotos tempos, não que seja natural, porém, uma distorção do verdadeiro caráter adormecido e latente por eras de repetitiva e insistente degeneração da espécie.
Se a desonestidade é a regra predominante então não podemos vivenciar uma Democracia.
Não mereceríamos este direito de participação e deliberação sobre nossos destinos.
Há algo de muito errado nisto tudo, que deve ser abordado e encarado de frente, sem frescuras ou preocupações sobre o que seja “conveniente” ou “politicamente correto” .
O que estamos presenciando em quase todos os países considerados “democráticos” é a derrocada do Estado Moderno como “ente abstrato” , dotado de personalidade jurídica que represente a vontade dos cidadãos que o constituem e legitimam seus representantes pelo voto.
Democracia é a primazia da vontade da maioria , portanto, aos perdedores só resta aceitarem o fato de serem minoria acatando as decisões dos vencedores.
Esta é, em tese, a engrenagem que possibilita a máquina administrativa e política trabalhar, decidindo e impondo normas coercitivas para o devido funcionamento da sociedade como um grande sistema orgânico.
As concepções de Estado, pelo menos as mais recentes, têm fundamentos no século XVII durante as turbulências políticas e econômicas do Reino Unido, através das teorias de Hobbes e Locke .
A transição de um Estado Natural para um Estado Político, ou seja , de uma realidade anárquica e primitiva, onde prevalecem os interesses individuais e a força como geradores de poder, para o que hoje entendemos como “cidadania” , traduzida pelo esforço conjunto de um determinado grupo a fim de, abrindo mão de certas liberdades e direitos, constituir, por meio de um “pacto social” um sistema representativo da necessidade de ordem, paz e prosperidade, visando o bem estar coletivo.
A figura do “Estado” é meramente simbólica no sentido estrito, não devendo significar uma entidade com vida própria, sem a aprovação e consenso da sociedade, para que não acabe por oprimir os cidadãos que o constituem em coletividade.
Explicando melhor, o que normalmente ocorre é um eterno conflito entre direitos naturais , assim considerados como inerentes à natureza humana e o poder absolutista de uma entidade “abstrata” que é o Estado.
Na concepção de Hobbes, quaisquer partidos, religiões, associações, etc, que representem interesses de grupos, só servem para desunir, provocar disputas e choques de interesses, nocivos ao interesse geral da comunidade, representado pela existência do Estado .
Na visão de Locke, o Estado só existe como legítimo, enquanto satisfizer plenamente a vontade e aos direitos fundamentais dos cidadãos, respeitando e se sujeitando a freqüentes questionamentos sobre suas normas, decisões e atos.
Ora... aqui há um paradoxo .
Uma coisa não pode criar outra, à qual concede direitos acima dos seus, para então questioná-la se representa o que deseja, para satisfazer seus interesses individuais.
O Direito Constitucional se espelha no “Pacto Social” como forma de expressão da ideologia predominante num grupo coletivamente imbuído de um sentimento de identidade nacional.
Sem isto simplesmente não pode existir, muito menos uma Constituição Federal .
O que acontece com o Brasil que nada dá certo e a Constituição nunca se mostra capaz de ser aplicada como deveria?
Não temos lá bem claro e explícito que “todos têm direito a casa, moradia e alimentação e educação, necessárias à sua subsistência" ?
Quem garantiu até hoje isto?
Qual governante ou governo?
Para que colocaram esta demagogia eleitoral, que nunca poderiam cumprir e satisfazer?
Quantas emendas constitucionais aprovadas sem a devida cobertura e divulgação, privilegiaram grupos de interesses com força de pressão no Congresso em detrimento da vontade popular?
Bastam alguns “grupelhos” organizados, representantes de “minorias” ou segmentos específicos e uma lei é prontamente aprovada para atender interesses que não foram submetidos à aprovação majoritária e verdadeiramente democrática da população.
Por que fomos chamados a decidir em ”referendo” sobre um pequeno "detalhe" do “Estatuto do Desarmamento” , já previamente aprovado por eles, os parlamentares, que praticamente nada mudará em virtude desta votação popular?
Pura palhaçada e engodo, para desviar a atenção de fatos mais sérios como a crise do “mensalão” que tanto apavora o governo federal?
E qual o motivo de assuntos polêmicos como o aborto, estar sendo, às escondidas, votado no Congresso sem a devida consulta à nação.
Que legitimidade ainda pensam que têm aqueles “senhores e senhoras”, que lá estão, se locupletando do nosso dinheiro, após termos tomado conhecimento do alcance da podridão moral do Legislativo?
Tivéssemos nós pessoas com dignidade, integridade, poder e força suficientes, o Congresso já estaria fechado, mandatos cassados e o governo deposto!
Esta é a diferença entre o “Direito Natural” , antes que o cidadão abra mão de sua autonomia e direitos, em prol de uma coletividade e o “Político” , o “absolutismo opressor” de um fictício “Estado”, que não mais, ou nunca representou os verdadeiros anseios da sociedade .
Tal conflito provoca um clima de “crise de dissonância cognitiva” , como é entendida na Psicologia Comportamental, onde, quem elege seus representantes , os quais sempre acabam se revelando seus opressores e espoliadores, entra em apatia e decepção crônicas, sem conseguir escapar ao círculo vicioso de continuar votando e elegendo estes crápulas, por absoluta falta de opção!
Não conseguem vislumbrar outras formas de sistema de governo ou regime.
Fogem de uns, para caírem nos braços de outros igualmente falsos e mentirosos.
Parem de colocar a culpa no povo pela perpetuação deste quadro de mediocridade política nacional que temos!
Não é porque supostamente a maioria seja desonesta, é porque nenhum destes políticos consegue convencer o povo, pelo exemplo próprio de dignidade e caráter!
Quem não dá o exemplo não pode despertar sentimentos mais profundos de integridade, ética e cidadania em ninguém!
Somente através da imagem própria, das ações e comportamento, pautados por uma vontade interior imbatível e incorruptível, poderemos mudar a mentalidade do povo, mesmo sendo uma rara e muito pequena minoria de cidadãos de bem.
David Hume e Platão foram alguns expoentes desta vontade e retidão de caráter.
Muitos outros tivemos, que deixaram suas mensagens de fé, esperança e também severas críticas ao ser humano .
Cada qual, com seu mérito e conhecimento, porém todos com um mesmo objetivo; “despertar consciências” !
Esta é e deverá continuar sendo nossa árdua missão.
Não podemos “morrer em vida” , deixando que um sonho também pereça, sem muita luta e garra, sem muita perseverança e certeza de propósitos, sem muito tentarmos gratificar e justificar nossas vidas pela dedicação ao bem comum da espécie!
Como dizia o ex-príncipe e mestre Sidarta Gautama Budha;
“não aceitarei passar pelo portal para o céu e vida eterna em “Nirvana”, antes que o último e mais atrasado ser humano tenha passado”.
E modestamente complementaria dizendo ;
“quem se ilumina, percebe que somente as trevas justificam sua alegria de existir”.
“Namastê”