quinta-feira, janeiro 12, 2006

Resposta ao Idjarrina Karajá

Amigo Idjarrina.

Tentando responder aos seus questionamentos, embora o Ítalo Leonardo também deva ter mais argumentos e relatos complementares, procurarei analisar cada colocação sua.


Temos os seguintes pontos definidos entre nós onde não há controvérsias :


1-Somos contrários ao isolamento dos indígenas e favoráveis a uma integração de culturas, para uma troca de conhecimentos e ação conjunta, como brasileiros, num só povo e nação.

2-Também concordamos que os indígenas tenham o direito de preservarem suas tradições e costumes.

3-Que têm o direito de defenderem as terras onde vivem de eventuais invasores.

4-Que a política governamental até hoje adotada não tem sido eficaz.

Penso que estes sejam os pontos principais em que concordamos totalmente,(pode ser que a partir desta análise discordemos,rsss) mas vamos analisá-los junto com outros ainda em discussão para um melhor esclarecimento de nossos amigos e membros do MBNE.

-O isolamento
Apesar de reconhecer o direito de isolar-se, de qualquer pessoa ou grupo, não acho que seja produtiva esta atitude, pois causa a estagnação por falta de contatos que estimulariam a aquisição de conhecimentos de utilidade para uma melhor qualidade de vida e evolução.

-Tradições e costumes
É lógico que devemos respeitar as diferenças e preservar a transmissão das tradições aos descendentes.
-Defesa das terras
Não por serem indígenas, mas sim, por serem brasileiros como qualquer um e possam usar seu direito de legítima defesa garantido pela Lei.
Entretanto há uma diferença entre um proprietário de terra e um habitante de uma reserva demarcada pela União.
O primeiro tem a propriedade individual e legalmente escriturada, o segundo apenas usufrui a posse coletiva, sem garantias que um dia o governo revogue, por interesses estratégicos, o que lhe foi concedido.
As reservas foram demarcadas por um critério de avaliação do quanto seria necessário para a subsistência das aldeias, conforme seus métodos e necessidade de aproveitamento dos recursos naturais.
Não foram os indígenas que no passado procederam conforme as normas, requerendo a posse por “Usocapião”, com detalhamento dos limites, dentro dos padrões legais normais.
Isto foi um longo processo desde o projeto do marechal Rondon, os irmãos Villas Boas e outras intervenções externas que resultaram no que hoje têm de “habitat” natural.

Foi com a ajuda de cidadãos brasileiros; “caraíbas”, que conseguiram, não porque fossem fortes o suficiente para defenderem suas terras com lanças e flechas.
A prova disto é que foram dominados e muitos exterminados pelos colonizadores portugueses que possuíam precárias armas de fogo.
Hoje, sem os militares não existiriam mais para contar a História nem teriam a quem contá-la.

A verdade é esta e deve ser aceita com humildade.

É fácil colocarem a culpa de tudo nos outros, difícil é admitirem que estão assim por terem estagnado em isolamento cultural.

O sangue guerreiro nada mais vale ante uma metralhadora. Talvez em tocaias contra poucos homens às vezes possa dar resultado, mas não em confronto direto e aberto.
Deverá ser aproveitado em ações coletivas objetivas, despertando nos demais a mesma vontade de lutarem por justiça.

O mundo mudou nestes 506 anos. Os brancos “caraíbas” conservaram as tradições, abandonaram as lanças, flechas e espadas, porém inventaram novas armas e máquinas, evoluíram tremendamente em tecnologias, não importa se para o bem ou mal, mas progrediram materialmente, enquanto que os indígenas ainda não e teriam continuado em guerra entre tribos e nações, do mesmo modo que os africanos, até que alguém os venceu e praticamente dizimou.
Somente os que se deixaram absorver pela cultura predominante conseguiram sair da estagnação, embora muitos tenham degenerado e nada obtido senão miséria e vícios.

Não se esqueça que os nossos colonizadores europeus, no passado também foram conquistados, invadidos, escravizados, passaram por terríveis guerras , pestes e miséria,mas aproveitaram o melhor que puderam, dos choques entre culturas e etnias, miscigenaram, absorveram conhecimentos e, por fim, colonizaram o mundo.

Portanto, quando concordamos que todos os brasileiros deveriam seguir o exemplo de revolta dos indígenas, só que dirigido contra os políticos canalhas que nos governam, temos também de ponderar que, as pessoas comuns, não-indígenas, têm receio de sofrerem danos físicos, porque para elas não há “refresco”, é repressão violenta mesmo e cadeia se fizerem o mesmo, enquanto que para os indígenas considerados , incapazes e inimputáveis, tudo é permitido sem repressão policial e as autoridades se prestam até a humilhações, agressões e ameaças contra a vida, buscando um acordo.
Quanto tempo acha que suportariam um combate com um batalhão policial decidido a atirar para valer?
Poucos minutos, não?
Mas as armas que você diz serem “inofensivas”, poderiam ferir e matar alguns policiais armados, quanto mais cidadãos desarmados que reagissem.

Não há nenhuma prova de coragem quando alguém sabe previamente que nada lhe acontecerá em revide.

Pessoas desarmadas e indefesas não podem ser coagidas nem mantidas como reféns.
É crime.

Se os indígenas querem partir para uma justificada revolta, então visem oponentes que possam se defender.
Não penso que seja uma atitude correta permitir este tipo de comportamento sem a devida conseqüência dos atos.
A Lei é para todos, não pode admitir diferenciações ou privilégios entre cidadãos brasileiros, nem conceder regalias a determinados grupos, não interessa sob que justificativas populistas demagógicas de proteção.
Quanto a isto concordo com os que aqui manifestaram seu desagrado e indignação, contra este tipo de discriminação entre os que nasceram no mesmo país, mas apenas alguns só têm direitos a mais e não deveres e obrigações também.
Ninguém é inferior ou superior a outro, que necessite de tratamento privilegiado.
O sistema de cotas é outra aberração populista eleitoreira, que acabou criando sentimentos racistas onde não havia, por parte dos que se julgaram prejudicados.
Medidas “assistencialistas” como esta, ao invés de estimularem a auto-estima só aumentam a sensação de inferioridade.
Os indígenas não precisam disto.
Têm sua sabedoria, artesanato, técnicas e conhecimentos dos mistérios das ervas e plantas medicinais, podem contribuir em muito, se assim desejarem, sem perderem suas tradições.
Podem estudar, trabalhar, pagar impostos como qualquer cidadão, sem necessitarem de tratamento diferenciado especial.
Uma vez que não existem mais indígenas puros após tantos séculos de miscigenação, voluntária ou forçada (como na época em que os escravocratas resolveram misturar africanos e indígenas), a maioria não vive mais em “ocas” e “tabas”, mas em casas comuns da arquitetura “caraíba” dos descendentes de europeus, tem energia elétrica, automóvel, refrigerador,computador e até Internet, o que impede que continuem a transmitir sua cultura em seu meio?

Etnia é uma coisa, raça é outra.
Etnia é um grupo humano que cultiva uma mesma tradição, cultura e idioma, não importa se miscigenados ou não.

Acaso os descendentes de alemães, italianos, portugueses, japoneses, etc, que aqui chegaram e trabalharam como verdadeiros escravos, não conservam suas tradições ?
Desfrutaram de algum tratamento especial para vencerem? Ou apenas muito trabalho, esforços e méritos próprios?

Sobre o fato dos indígenas se considerarem ou serem considerados os únicos “nativos” por aqui estarem antes dos invasores, devo esclarecer que este mito já foi contestado pelos arqueólogos e antropólogos que pesquisam sítios arqueológicos no Brasil, provando que havia uma outra etnia, desde a era paleolítica,há milhares de anos atrás, que foi conquistada, absorvida ou simplesmente dizimada pelos então “invasores indígenas”, vindos da América do Norte e Central .

Sinto-me na obrigação de citar estas coisas, para que o erro não se perpetue e equívocos sejam repetidos por ativistas, como chavões doutrinários, sem o devido esclarecimento de indígenas e não-indígenas .

Não será omitindo a verdade que construiremos algo de bom.

Presenciamos o “retalhamento” do Brasil, pela atividade de grupos de interesses; “Ongs”, partidos, minorias,etc, em segmentos antagônicos entre si, que só dificultam a busca de uma identidade nacional.
Cada qual olha para o seu umbigo e se apega a seus interesses sem admitir a opinião alheia.
São sempre as vítimas injustiçadas e oprimidas, os outros os errados e opressores.
A cantilena não muda, só aumenta.
Uma chatice!

Os indígenas devem procurar escapar deste embuste e não se deixarem manipular.
Se há infiltração de oportunistas, eles sabem muito bem quem são e devem expulsá-los para que não percam a legitimidade .

-A política governamental
Nem é necessário comentar, depois das críticas acima feitas.

Somente pela ação de diversos líderes descendentes de indígenas , desvinculados de grupos de interesses, será possível a integração que pretendemos.
Esta é minha opinião sincera, honesta, politicamente "incorreta" e sem receio de expressar o que penso.
Abração.
Homero Moutinho Filho