O jogo do poder

Realmente estamos num imenso jogo de xadrez onde cada lado planeja suas jogadas e as apresenta no momento adequado.
Observem a seqüência dos acontecimentos.
Lula concede poderoso ministério exigido por Severino.
Este , abertamente parte para intensa defesa do governo, tentando protelar cassações e investigações .
Gabeira esbraveja no plenário contra Severino, acusando-o de ser uma vergonha para o Brasil. Ameaça iniciar um movimento para a o afastamento dele da presidência da Câmara.
Lula acintosamente, em afronta à nação, condecora Severino, recompensando publicamente seu comportamento deplorável.
Uma reportagem denuncia o recebimento de propina mensal por parte do presidente da Câmara dos Deputados .
Lula, com medo de ser vaiado ( e seria, pelo que o esperava lá) desiste de comparecer ao jogo de classificação para o mundial, da seleção brasileira.
A oposição investe pedindo a renúncia de Severino, mas este simplesmente divulga nota e não recebe a delegação de deputados.
O presidente do senado acena com um recado, dizendo que não irá mais à New York. Severino se faz de desentendido e insiste na realização de seu inadiável sonho de discursar na ONU (credo!).
O acusador (dono do restaurante) se retrata (???), afirmando não ter pago o “mensalinho”.
A oposição informa à imprensa, ter provas concretas sobre o caso Severino.
Qual a explicação para isto tudo?
Não é muito difícil imaginar.
A oposição quer sim a queda de Lula, mas sem Alencar , Severino, Calheiros ou Jobin , na linha direta de sucessão. Prefere que o processo pare na Câmara dos Deputados com um represente dela assumindo a transição.Como a legislação é omissa, caberá a este substituto convocar a eleição do novo Presidente da República e determinar se interna ou externa, permitindo quaisquer candidaturas, inclusive de independentes pois a lei não é clara a este respeito.Pelo visto, o risco de qualquer brasileiro poder se candidatar, não estaria em hipótese alguma nos planos dos políticos.
Um nome de consenso, que representasse a “purificação” da Câmara perante a opinião pública, com bom tráfego no Judiciário, seria o indicado para gerir o interstício após o afastamento dos chefes do Executivo.
Quem pensam que poderia preencher estes requisitos? Algum líder de partido?
Não creio, pois todos estão direta ou indiretamente envolvidos nos escândalos.
Apostaria minhas fichas em uma figura como a deputada Denise Frossard, por ser de um partido pequeno (PPS), juíza, notoriamente conhecida por suas sentenças contra o crime organizado. Seria sem dúvida uma boa solução para a crise, embora ache que ela, Heloísa Helena, Gabeira, Fruet, Onyx, ACM neto, Paes, e todos os outros que se apresentam como “puros”, deveriam renunciar coletivamente aos mandatos em repúdio ao instituto do “caixa 2” adotado por todos os partidos nas eleições. Estaria mais de acordo com a postura de dignidade parlamentar de quem rejeita estes métodos.
Esta seria a explicação para as tentativas de afastamento por suspeição de Severino Cavalcanti da presidência da Câmara, pois com ele o processo empaca e virará “pizza”, sem o menor constrangimento por parte dele e da maioria dos parlamentares, que em votação secreta absolverá seus colegas de “mensalão”.
Por que não o fazem?
Gabeira aproveitou todos os momentos certos na mídia e no plenário para aumentar o valor de seu “passe” para filiação em outro partido, pois está sem representação. Heloísa Helena aproveitou para divulgar o seu PSOL (que nem registro tem ainda) como alternativa de construção de um novo PT e sobrevivência das esquerdas, dilaceradas pelo “Tsunami” de lama petista. Denise Frossard assegurou seu cacife para se lançar candidata ao governo do Rio e admite francamente esta hipótese.
Por aí vai a estratégia política . Resta saber se o “imponderável”, que para mim não é tão imprevisível assim, não surpreenderá a todos os “analistas”, que afastam qualquer idéia golpista possível.
Veremos, quando a crise se agravar violentamente a partir do final deste mês de setembro com muitos fatos desestabilizadores que ocorrerão, conforme alerta minha “bola de cristal”.

Homero Moutinho Filho
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