terça-feira, maio 03, 2005

Les Reveries du promeneur solitaire ("Devaneios de um caminhante solitário"),

Fico pensando o que eu e Rousseau teríamos em comum , considerando que não concordamos quanto ao “bom selvagem”.
Apenas um aspecto prosaico e até muito simples, de ambos apreciarmos “caminhadas solitárias”, se bem que, as minhas não sejam sempre tão solitárias assim , em virtude de minhas companhias de madrugadas, dois cães e que os “pensamentos”olfativos deles não atrapalhem os meus.
Considerando as devidas semelhanças, até que temos algo muito parecido ,qual seja, a necessidade de um devaneio noturno ,quando a cidade dorme e os “ares” ficam menos densos .
Neste início de “friozinho”, cai bem deixar que os bichos me levem para passear.
Não consigo raciocinar plenamente até as 16:00 pelo menos.

Antes disto, sou somente um “autômato” condicionado a cumprir tarefas regulares e indispensáveis, após o que, desperto em toda minha “exuberância produtiva” , rs.
Aprendi a linguagem do povo com a vida e experiência voluntária para conhecer as vicissitudes por que todos passam . Gosto de um “causo” esporádico e eventual numa esquina ou posto de gasolina, como o que eu sempre vou para comprar algo na lojinha de conveniência.
Cada compra, vale, pelo menos, umas duas horas de papo com quem ali estiver e aprouver, seja quem for, frentistas, desocupados, clientes ou passantes.
Fico extasiado como as soluções para pequenos e grandes problemas, possam sair da cabeça de pessoas comuns num simples bate-papo de madrugada.

Joguem os livros e métodos fora, pois a sabedoria está na mente do mais simplório e inculto cidadão que encontrem pela frente.
Hoje, há pouco , estive “papeando” com dois frentistas um mendigo e um freguês meio perdido na noite .
Qual não foi minha surpresa ao ver que um projeto elaborado por vários “experts” e intelectuais sobre saúde em nosso Movimento Brasil Nova era, saiu igualzinho, da boca e lápis de um simples empregado de posto de gasolina que desenhou num papelzinho o que ele pensava ser a solução para o esquema de atendimento nos postos de saúde e Santa Casa (SUS)?
Seria a tal da “sincronicidade” Junguiana novamente, ou apenas sabedoria popular?
Sei não...mas que a coisa me deixou atônito deixou.
Meus cães já estavam inquietos e estressados de ficarem parados ali, enquanto eu “papeava” com eles, sentia as guias se enrolarem em minhas pernas , mas não me deixei abalar por este protesto canino àquela altura do campeonato, visto estar estupefato com a abundância de fórmulas populares para os nossos difíceis entraves inconciliáveis . Acabaram derrubando o saquinho plástico quebrando uma garrafa e inutilizando meu pacote de cigarros, mas não liguei, em vista dos resultados muito produtivos daquela conversa.
Afinal, os “bons selvagens” ali eram meus cães não nós.
Para quem nasceu e viveu em grande metrópole como eu, até no exterior , uns 13 anos de vida no interior foram de grande valia.
Acabei percebendo que, se quisermos entender o Brasil, será de dentro para fora, não o contrário, “pelas bordas” mais populosas que chegaremos a alguma conclusão.

Estas estão por demais rançosas e deterioradas pela intelectualidade nefasta de uma “minoria esclarecida”e elitizada.
Querem entender o mundo e o nosso país? Conversem com o povão, mendigos, bêbados e desocupados!
Terão muitas surpresas e se sentirão “menos sábios”, posso lhes assegurar isto.
Quando você conversa com um homem que passou o dia carregando baldes de concreto trabalhando ao sol de meio-dia e entende isto, pois também já passou por esta experiência mesmo que voluntariamente, aprende a ouvir mais e tentar entender a “voz de Deus” (Vox populi vox Dei).
A palavra fica mais fácil,pois ambos se identificam no mesmo campo e linguagem.
Não é a frase “marketeada” que ensinam ao governante, é a expressão de uma vivência compartilhada que une pessoas desconhecidas, porém, semelhantes.
É daí que partirá a mudança! Da vivência e simplicidade no dizer e viver ! Não se ensina sem aprender e não se promete sem entender!
Falem aos corações e atingirão as mentes!
Sejam mais povo, cultivem a humildade e perseverança, ainda que os demais estranhem tal coisa vinda de um “letrado”, pois eles não as cultivam nem compreendem alguém abdicar de suas prerrogativas sociais.
Causem-lhes um choque e reflexão ao mostrarem que tudo poderiam ser e ter, mas preferem a vida aprender!
E serão "caminhantes solitários", porém igualitários!

Homero Moutinho Filho

hmf_sp@yahoo.com.br

1 Comments:

Anonymous Anônimo said...

Homero, meus parabéns pelo que postou, aqui!!!

Também curto a madrugada, consigo pensar melhor quando "todos" estão dormindo, creio que assim como você, eu também escuto muito a dita " Vox populi vox Dei", não faz tanto tempo assim, ouvi um mendigo recitar uma poesia, (que de certo não era dele), mas belíssima, que por curiosidade, fui saber poucas horas depois que era de Cora Coralina.

Bem, está de parabens!!!

Visite o meu também se puder. http://italoleonardo.zip.net

quarta-feira, maio 11, 2005 2:38:00 PM  

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