quarta-feira, novembro 15, 2006

RATAZANAS



Ontem não pude postar nada, pois sofri uma invasão pestilenta em minha cozinha.
Devo antes fazer um breve histórico sobre minha vida para que entendam melhor as reações e fatos.
Desde criança passava minhas longas férias na fazenda ou em outros locais do interior, em Minas Gerais e na região serrana de RJ , no Rio de Janeiro, onde nasci e me criei.
Costumava sair pela manhã a cavalo pelos pastos, um guri de menos de 10 anos e só voltar à tarde, quando o meu amigo de 4 patas arriava de vez ou abria as pernas de cansaço, numa ponte, fazendo-me apear.
Isto mesmo, desde bem pequenino me acostumei a viver nesta outra realidade que a maioria dos jovens agora sequer conhecem , mais presos a um mundo virtual, onde nem uma galinha viva viram ou um cruzamento de animais soltos no pasto.
Pois é... mas isto nos ensina muito e fortalece tendências naturais, geralmente atrofiadas pelo nosso "modus vivendi" metropolitano, onde somos apenas "bundas chatas" na frente de um monitor.
Sempre preferi, por natureza e inclinação, sentir a força e energia de um dos mais belos e úteis espécimes da Criação.
Os cavalos.
Sim, eles são incríveis, de uma energia e potência harmoniosas, a início "indomáveis", depois fiéis e produtivos.
Sem eles, a humanidade não teria chegado onde chegou e nada teria acontecido no mundo em termos de progresso, se é que podemos chamar assim, nosso estágio de desenvolvimento atual.
Mas eu sou um apaixonado pelos eqüinos, não como prova de poder sobre um animal, mas, pela conjugação e osmose existente entre a liberdade instintiva de ser, (que se submete, por ser mais forte ao mentalmente mais apto, que, se devidamente respeitada, se reverterá em ações construtivas) e a fragilidade física humana, capaz de compensar sua fraqueza pela absorção deste elemento animal latente em nosso ser,esta potência simbolizada pelos eqüinos.
Não há heróis nem líderes na História, sem seus magníficos cavalos, sejam eles brancos, pardos, tordilhos ou negros.
Nossos "heróis" contemporâneos pilotam velozes carros de F1, ou simplesmente andam sobre suas frágeis pernas.
Não há mais heróis como antigamente.
Quando, desde a infância, temos contato com a natureza, nossos medos se desvanecem, pela simples razão de não estarmos revestidos de nossas defesas comuns, de quando estamos em nosso "habitat" urbano.
Se bem que, hoje é muito mais seguro estarmos no mato do que numa grande metrópole, mas quando eu era muito pequeno ainda não era assim.
Ah...que prazer uma criança sentia ao se libertar da presença dos pais, montar um animal fogoso e partir para os campos abertos, parar para descansarem debaixo de uma frondosa árvore, ainda que formigas pudessem atormentar, mas simplesmente usufruir da liberdade de ser, em cumplicidade com um animal, que nos induz e facilita esta sensação de sermos livres, fortes e sem limites de horizontes.
No mato pude desenvolver certas inclinações e equilibrar minhas tendências que oscilavam entre a mais extrema hiper-sensitividade e vocação pelas artes, pela Literatura e a necessidade de compensar, contrabalançar pelo lado mais viril e físico.
Nunca me atraí pela competição.
Pratiquei esportes, como a natação, Judô, Karatê, etc, para harmonizar energias e desenvolver uma disciplina pessoal, um controle psíquico, pois sempre fui muito pacífico e não agressivo.
Adoro animais, adoto-os, tento salvá-los, alimento-os e faço o que posso para ajudá-los.

Tive dezenas aqui em casa, agora uns 10, contando com as novas crias .
Não que os tivesse abandonado ou dado.
Teria uns 80 no mínimo, caso não existissem os cães assassinos de meu vizinho e os da rua que dizimaram ininterruptamente todas as mães e crias (as gatas) e meus cães (5)morreram de morte natural ou em acidentes.
Agora tenho apenas um cão e quatro gatos fora as recentes crias de duas delas..
Sou carioca da gema, da zona sul (Ipanema -Lagôa) e da praia, ex-surfista pioneiro, não mais, claro,embora ainda pudesse, pois isto não tem idade, é um estado de espírito, mas outras atividades e interesses mais fortes, me afastaram desta vida ao longo dos anos, além de um grave acidente no mar, surfando, que me custou muitos problemas posteriores, já resolvidos.
Aprendi a não temer bichos peçonhentos, ter nojo ou receio sim, mas saber como me defender e capturá-los sem riscos.
Detesto insetos, sou alérgico a picadas deles, assim como me causam asco baratas, mas, quando criança pegava-as pelas patinhas.
Fiquei meio "fresco" com o passar dos anos,rs.
Cobras, aranhas horríveis e ratos já matei de montão, por uma simples questão de não poder conviver com estas espécies sem me contaminar ou correr riscos de saúde.
Perguntaria a vocês , se pegariam uma cobra de quase 2 metros ou um “sapão”, matariam uma aranha "viúva-negra", altamente venenosa ou ratazanas de quase 40 centímetros de focinho a rabo?
Nem precisam responder, já sei que alguns aqui entrariam em pânico e se atirariam pela janela, pois a maioria é completamente "urbana", nunca teve de enfrentar estas situações, exceto que, até em apartamentos nas grandes metrópoles não estamos livres deste animais peçonhentos que infestam nossos bueiros, encanamentos e ruas.
Pois bem, ontem por volta da meia-noite (verdadeira, sem "horário de verão", pois bichos não conhecem isto) tive um pressentimento.
Costumo ter este tipo de instinto ou "sexto sentido" até dormindo e mesmo assim desperto imediatamente olhando para o alvo que possa me afligir.
Sei lá, se acreditarem em reencarnação, então eu devo ter sido um guia indígena ou algo assim, acostumado a me direcionar pelos instintos e percepções extra-sensoriais.
Sei que aracnídeos (aranhas) costumam "passear lá pelas 3 da madrugada e ratos preferem a meia-noite.
Pois bem. Estava eu tentando teclar e postar um novo texto neste “blog”, quando, repentinamente, tive sede e fui para a cozinha.
Lá chegando, deparo-me com algo que, a início, pensei ser um dos meus gatos na pia, mas logo vi que parecia mais um tipo estranho de “Guaximim”, cruzado com “esquilo” ou coisa assim, de tão grande , muito maior que este da foto, me olhando quietinho atrás do escorredor de louça.
Putz!
Retornei de mansinho, para pegar algo capaz de dar cabo da sua pestilenta existência, pois vassouras somente fariam cócegas naquele animal.
Devo esclarecer que moro agora no interior de SP, a minha casa está em obras, vulnerável e aberta à penetração deste bichos, além de estarmos cercados de verde e amplos gramados abertos.
O nome desta "coisa" com a qual me deparei pela segunda vez na vida é "Ratazana do brejo", (Oxymycterus roberti ) (focinho comprido de uns 5 cms e rabo de uns 10 cms, fora o corpo de uns 30 cms ), muito comum em rios, açudes e sítios, que costuma "migrar" pelas vias de escoamento e sair pelos bueiros e aberturas de respiração das ruas.
Vêm de longe, aproveitam períodos de seca para buscarem alimentação mais farta nos meios urbanos.
Até aí seria um comportamento normal "migratório", em vista de provável escassez de alimentos onde estavam e possibilidade de vida melhor em setores mais densamente povoados, repletos de lixeiras e sacos de lixos com restos bastante atrativos dos habitantes mais abastados.
Só que não exatamente na minha cozinha!
Ora! Adoro bichos, detesto matá-los, mas peste bubônica e outras doenças fatais não dá né?
Bem que fico destroçado por dentro, com a carinha deles, não a de antes, quando acuados e violentos, ameaçadores, mas depois da primeira “traulitada” firme, quando ficam estrebuchando em espasmos involuntários, pedindo que abreviemos seu sofrimento atroz.
Ah... como isto me dói e como tenho de me encher de razões nestes momentos, para fazer o que não gostaria de fazer por nada neste mundo.
Dói, mas é a vida, ante uma ameaça concreta que não é culpa deles, mas de sua espécie e periculosidade.
Voltei com um pedaço de pau (aqui madeira está sobrando por causa da obra), preferi este instrumento a ter de usar um facão de mato ou uma machadinha (tenho de tudo, menos armas de fogo, depois que perdi minha última num incêndio, dez anos atrás) pois fariam um estrago sanguinolento incapaz de ser apagado do piso da cozinha e espirraria para tudo quanto é lado .
Chamei meu cão que não é grande , é pequeno até, mas muito corajoso e hábil caçador de ratos, mais do que os gatos daqui, acostumados a ótima ração e frango com arroz, para me ajudar a encurralar o bicho.
Isto quando eu pretendia fazer uma pizza e beber um bom vinho que comprei na véspera. Pode?
Imaginem onde foi parar o meu apetite? Pois é...arrgghh...
Aí foi uma batalha e quase destruição geral da cozinha .
Um horror!
Entoquei o bicho, dei uma cacetada certeira, evitando estraçalhar a cabeça, para não esparramar miolos, ele sentiu, tonteou, fugiu para o fogão, dei outra, voltou para perto da pia , se escondeu debaixo na abertura do espaço do armário, meti o porrete, ele saiu meio sem rumo , o "Booty" meu cão, chegou a abocanhá-lo para jogar para o alto, eu berrei para que se afastasse, pois temia que ele se contaminasse, caso perfurasse a ratazana, dei mais uma e ela parou estática, com os olhinhos abertos me fitando.

Coloquei-a numa caixa de papelão, toda borrada de fezes já, e levei-a para os gatos .
Pois não é que todos ficaram apenas olhando que nem imbecis e nenhum se atreveu a pelo menos "cheirar" o banquete?
Se acostumaram a boas refeições, de graça, "bolsa-família" e agora rejeitam ter de engolir “ratazanas peludas” .
Ora se pode isto?
Vi que ela não havia morrido ainda, pois se mexeu.
Tive de apelar para algo mais contundente e fatal.
Uma viga de uns 20 Kg, tendo o cuidado de não explodir tudo em tripas e sangue, apenas dar um golpe final na cabeça, pegando de lado.
Frieza?
Não, apenas prática, para não prolongar o sofrimento do animal.
Era uma tremenda e maléfica "ratazana" sim , mas tudo fiz para abreviar suas dores e finalizar o sofrimento.
E lá fui eu ter de "cremar" o bicho.
O resto da madrugada, passei desinfetando e lavando tudo na cozinha, pois vivo agora só, sem empregados, apesar da casa ser bem grande, mas não gosto de serviçais nem escravos.
Sou totalmente independente e curto bastante isto.
Separei-me de minha companheira de 15 anos recentemente, mas não preciso de "babás".
Cozinho bem, faço de tudo, lavo, passo, "meto a mão na massa" na obra da casa, sou livre e não dependo de ninguém.
Não aceito propostas de casamento viu? Rs.
"Ratazanas" à parte, devemos pensar bem no que este "recadinho do nosso subconsciente" significa.
É simples.
As "ratazanas" estão invadindo e conquistando nosso "saudável" espaço vital, se alimentando de nossa imprudência e até desleixo, falta de coragem ou péssimos hábitos de dependência, para ocuparem posições estratégicas, capazes de nos causarem grande transtorno e pânico, caso não estejamos preparados, nem tenhamos o devido "sangue-frio" para prontamente eliminá-las, afastando o mal de nossas vidas .
O mesmo transporíamos para o caso de nosso país.
Nossa "cozinha" já foi "invadida", em breve, seremos mordidos no leito!
Será fatal se não reagirmos com coragem e determinação.
Quando falo em "cozinha", não é que seja um cômodo menos importante, pelo contrário, comparo a "cozinha" ao governo, pois é de lá que provém nosso alimento.
Se fétida, contaminada e podre, pereceremos pelo contágio de algo sem ética, sem moral, sem escrúpulos, sem qualquer qualidade humana, apenas animal,no pior sentido, de sobrevivência da "espécie".
"Ratazanas" se proliferam muito mais rapidamente do que nós, os mais aptos,os "racionais", que nada vemos, nada sabemos, nem ouvimos até que elas nos invadam o espaço vital e talvez seja tarde demais.
Costumo dar enorme crédito e atenção aos símbolos e fatos do cotidiano.
Para cada fato há uma interpretação simbólica, é só estarmos atentos e percebermos a tempo.
Façamos isto, "tocaiando-as" primeiro, encurralando-as sem ódio nem maldade, apenas por autodefesa, dando a elas um fim sem maiores traumas.
Depois "desinfetaremos" nossa "cozinha" (governo, políticos e partidos) e livraremos nosso Brasil de mais "contaminações fatais"!
XÔ RATAZANAS!

5 Comments:

Anonymous Anônimo said...

Homero,rssss
Postei anterior à este texto, aliás, uma visão bem interessante.
Quantos esgotos e ratazanas serão necessários para que se faça a faxina...
Sempre ouço a voz da intuição e procuro torná-la racional.
Dizem que a população se farta de churrasco de gato.
Quero ver a ressaca e as filosofias
seladas,rss.
Tenho certeza que essa euforia terá curta duração.
O povo acorda, ah se acorda!
Abs, exterminador de ratazanas!

quarta-feira, novembro 15, 2006 11:10:00 PM  
Blogger Homero Moutinho Filho said...

Teremos de "exterminá-las" antes que seja tarde, amiga.
Para tudo há um momento e tempo.`Para paz e para a batalha dos justos.
Abração

quarta-feira, novembro 15, 2006 11:39:00 PM  
Anonymous Anônimo said...

**

rsrsrs + rsrsrs Ahhh... Homero! Como ri em determinadas passagens!!! rsrs

Compreendo sua ligação com a natureza, também fui criada em fazenda e sítio e moro num espaço com bastante verde, apesar de já ter vivido em Sampa, não consigo mais me conceber vivendo num centro puramente urbano...

Realmente existe este lado, qdo nos silenciamos, seja por comodismo, desinformação, ilusão e sei lá mais o que, surge sempre a invasão e dominação... Veja um jardim também, um gramado, se não cuidamos a erva daninha adentra e destrói...

A planta, popularmente conhecida como jibóia, se a deixarmos se agarrar e crescer numa árvore, a princípio é até bonito de se ver, mas com o tempo ela mata a árvore, por mais frondosa que seja...

Muito válida a sua comparação!

Xô Ratazanas!

Abraçooo de urso!

Susie

quinta-feira, novembro 16, 2006 2:14:00 AM  
Anonymous Anônimo said...

Homero...
eu preciso dizer alguma coisa?
ainda mais sobre o mundo natural!!! que apesar de novo já tenho uma vasta experiência!!!
Sabe eu percebi que vc vive uma saudade do campo!!!

Sobre as ratazanas... essas normais... eu já dei cabo de algumas... eu seria um desses jovens que lidaria com essa situação com muita tranquilidade!!!

Sobre as ratazanas que estão acabando com a gente... temos que unir forças para conseguir dar fim nesta peste...
Abração

id

quinta-feira, novembro 16, 2006 1:42:00 PM  
Blogger Homero Moutinho Filho said...

Vocês saõ ótimos.
Quem tem amigos assim, consegue superar a loucura que tomou conta deste país e continuar na luta.
É verdade que os 3 têm experiência deste contato direto com a natureza e sabem perfeitamente do que falo, apesar das minhas metáforas,rsss.
Enquanto existirem pessoas como vocês haverá ainda esperança .
Abração.

quinta-feira, novembro 16, 2006 2:43:00 PM  

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