quarta-feira, abril 12, 2006

Ótimo artigo !

Muito bom este artigo que confirma tudo que vimos alertando desde 2005 sobre esta estranha inércia da oposição ao postergar o pedido de “impeachment” de Lula.
Como sempre coloquei em destaque a hipótese de um afastamento do presidente inviabilizando sua candidatura vale a pena reforçar esta possibilidade lendo esta ótima análise .

12/04/2006
Oposição teme impeachment
Ruy Fabiano

PSDB e PFL, que representam a quase totalidade do universo oposicionista brasileiro, não querem o impeachment de Lula. Quanto a isso, Fernando Henrique Cardoso já tranqüilizou o presidente da Câmara, Aldo Rebelo, em recente encontro que tiveram.
Pefelistas e tucanos temem que o simples encaminhamento da proposta do impeachment gere um ambiente semelhante ao que Hugo Chavez criou na Venezuela quando lá se cogitou disso, há três anos. O pesadelo é o de ver o país dividido, em clima de guerra civil, o que poderia não apenas garantir a eleição de Lula, como tornar seu segundo mandato um salto no escuro. De um lado, o chamado lumpemproletariado; de outro, a classe média.
Apesar de todos os pesares, o PT é um partido enraizado em setores periféricos da sociedade. Possui laços consistentes com movimentos sociais e sindicatos. Acionar essa estrutura e colocar massas reivindicantes nas ruas é relativamente simples, sobretudo quando se está no governo e se pode lançar mão da máquina administrativa. Ninguém duvida que isso será feito se a idéia do impeachment se materializar.
O efeito desse temor é paralisante. E a paralisia semeia confusão, dúvidas no eleitorado. Parte dele passa a duvidar da participação de Lula nos escândalos, na medida em que seus próprios adversários o poupam. Outra parte acha que, como todos roubam, por que punir apenas Lula? Será que é porque ele é do povo? Os dois questionamentos, somados à sensaboria do candidato oposicionista, Geraldo Alckmin, mantêm Lula no topo das pesquisas.
Nem mesmo o procurador da República, Antônio Fernando de Souza, ousou em sua denúncia, ontem apresentada, mencionar o nome de Lula. Usou de linguagem direta e crua, chamando de “quadrilha” o esquema do PT comandado por José Dirceu, José Genoíno & amigos. Mas omitiu Lula.
Diante do que disse o procurador, sustentando que a rapina tinha organicidade e método e era pilotada a partir do Palácio do Planalto, é inconcebível supor que o presidente estivesse alheio a ela. É inevitável, diante dessa colocação, invocar o argumento apresentado, meses atrás, pelo senador Arthur Virgílio (PSDB-AM), com sua habitual truculência verbal: “Se o presidente não percebeu nada, é um inepto, um idiota”.
A hipótese de alheamento presidencial é ainda menos verossímil se se levar em conta a estrutura centralista do PT, em que, como afirma a ex-petista senadora Heloísa Helena (PSol-AL), Lula comanda tudo, cada detalhe, com mão de ferro. Sempre comandou – e continua comandando.
Quando a idéia de jerico de quebrar ilegalmente o sigilo bancário do caseiro Francenildo foi adotada, Lula estava em Santa Catarina. E não escondeu seu entusiasmo com a informação de que havia qualquer coisa esquisita com as finanças do caseiro.
Ou seja, sabia o que estava em curso, a operação que resultou na demissão do ministro da Fazenda, Antonio Palocci, do presidente da Caixa Econômica, Jorge Mattoso, e pode ainda ter como desfecho melancólico a demissão do ministro da Justiça. É improvável que ele se sustente por mais tempo. Perdeu as condições políticas. O ministro da Justiça é o mantenedor da segurança jurídica.
Tal missão o obriga, em casos como o do ex-ministro Palocci, não a providenciar-lhe um advogado, mas a cuidar de detê-lo e encaminhá-lo à investigação policial. É quase certo que, uma vez ouvido pela CPI dos Bingos, Bastos pegue seu boné e volte à sua próspera banca advocatícia em São Paulo.
Lula estará mais só do que nunca. Sua queda depende de determinação política, que não há. O sigilo bancário de Paulo Okamoto, presidente do Sebrae e tesoureiro informal da família Silva, está preservado pelo Supremo Tribunal Federal. Romper essa blindagem é possível, desde que haja ambiente político. Não há.
Dia 8 de maio, o Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil se reúne em Brasília para examinar relatório de comissão técnica incumbida de avaliar juridicamente a hipótese de impeachment. Foi a OAB que, em 1992, encaminhou a proposta de impeachment de Fernando Collor. E é a ela que se recorre novamente. O relator da matéria no Conselho Federal, advogado Sérgio Ferraz, é favorável ao impeachment, mas o plenário, já chamado a se manifestar anteriormente, posicionou-se contra.
Não se sabe o que dirá agora, tantas denúncias depois. Mesmo que diga sim, não significará muito, se a oposição parlamentar não estiver de acordo. Com isso, Lula ganha tempo e as denúncias se diluem. Certo está o deputado Thomaz Nonô (PFL-AL), primeiro-secretário da Câmara – e um dos cotados para vice na chapa presidencial tucana: ou o candidato da oposição se apresenta como o anti-Lula ou está frito. Ou radicaliza ou Lula leva. As pesquisas lhe dão razão.

Ruy Fabiano é jornalista
Fonte: Blog do Noblat
http://noblat.estadao.com.br/noblat/index.html